quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Rei, Rei, Rei... REINALDO ETERNO REI.


Reinaldo, ou melhor, José Reinaldo de Lima nasceu na cidade mineira de Ponte Nova em 11 de janeiro de 1957. Na sua cidade natal seguiu a tradição de família e jogou no Primeiro de Maio equipe amadora onde dois de seus irmãos atuaram. No Primeiro de Maio o jovem Reinaldo se destacou sua fama de bom jogador espalhou-se. Em Ponte Nova dizia-se que o jovem Reinaldo era o novo Pelé e levava a melhor na comparação com Tostão do Cruzeiro. Depois de seu relativo sucesso no Primeiro de Maio, Reinaldo trocou de clube sem sair de sua cidade natal. O Pontenovense, ofereceu a Reinaldo algumas regalias a mais que seduziram o jovem craque. Em Ponte Nova todos na cidade davam como certo a ida de Reinaldo para o Botafogo do Rio de Janeiro, time no qual seu irmão mais velho, Mário Lúcio, fora tentar a sorte. Porém, o destino do craque do Pontenovense começou a mudar no dia da Independência do Brasil.



Sem muito tempo para fazer a avaliação de Reinaldo em Ponte Nova, Barbatana(acima) pediu para que o jovem Reinaldo fosse a BH para vê-lo jogar. Em BH, Barbatana escalou Reinaldo para jogar entre os adultos. O que seria um teste, virou um show: em meia hora Reinaldo deixou os beques titulares tontos, fez 3 gols e tornou-se a grande sensação na Vila Olímpica. Imediatamente, o técnico Barbatana pegou-o pela mão e levou-o à diretoria para combinar seu primeiro contrato.

Em 1971, Reinaldo encontra o Atlético:

A história de Reinaldo no Atlético começou em 7 de setembro de 1971, quando o juvenil do Galo foi jogar na cidade de Ponte Nova participando das festividades da Independência. Barbatana, também natural da cidade e técnico dos juvenis do Galo, foi alertado de seu talento. O pessoal de Ponte Nova dizia a Barbatana: "Você precisa ver o Reinaldo jogando, Tostão não chega nem aos pés dele! . Quase que imediatamente, Barbatana foi a casa do jogador. Barbatana iria fazer o convite para o jovem craque participar do jogo que o Galo faria na cidade. Porém, Barbatana não encontrou Reinaldo, pois o mesmo estava em um desfile na parada da independência. O Galo jogou e já se preparava para voltar para Belo Horizonte, quando amigos do técnico, vendo que Barbatana não viu Reinaldo jogar o alertaram novamente para o talento de Reinaldo. O feeling do técnico descobridor de talentos falou mais alto. Acompanhado de Sinval, Barbatana foi novamente a casa do Reinaldo e o convidaram para naquele momento viajar a Belo Horizonte onde seria observado. Em uma decisão bastante rápida, o jovem craque vestiu uma calça, pegou uma jaqueta e deu adeus ao pessoal e rumou para Belo Horizonte. Em seu primeiro treino no Galo com 13 anos de idade e ainda sem contrato assinado, Reinaldo marcou três gols ao enfrentar o time titular que pouco depois venceria o campeonato Brasileiro. Após marcar o terceiro gol em seu primeiro treino o técnico Barbatana pegou-o pela mão e levou-o à diretoria para combinar seu primeiro contrato. N a sala da diretoria, assinou um contrato em branco. Todos no Campo de Lourdes ficaram impressionados com a habilidade do Garoto. Quase ao mesmo momento, na sede do Lourdes, chegava sua mãe, Dona Maria Célia, apavorada e perguntava: “Onde está o meu filho? O que vocês fizeram de meu filho? Onde vocês o enfiaram?”Enquanto alguns funcionário do Clube acalmavam a senhora, outros tratavam de procurar Reinaldo, que chegou em companhia de Barbatana. Depois de muitos abraços, a senhora voltou a Ponte Nova, com o contrato,para que seu marido, Mário Lima assinasse-o. Reinaldo passava a ganhar 100 cruzeiros mensais, mais casa e comida. Reinado foi lançado no time dente-de-leite e acabou como artilheiro. No começo de 1972, disputou a Taça Cidade de São Paulo, entre os juvenis. Logo depois foi convocado para Seleção Mineira que disputou a Mini-copa Dentinho, em Brasília, onde acabou incluído na seleção dos melhores dentes-de-leite do Brasil. Até então Reinaldo continuava a não acreditar muito na possibilidade de tornar-se profissional.


Reinaldo aparece na Seleção dos melhores Dentes-de-Leite do Brasil em 1972.

Em 1973, o início das contusões e o interesse do Cruzeiro:

No começo de 1973, o Atlético foi convidado para participar do Torneio do Povo e também tinha que disputar a Taça Minas Gerais. O time principal foi disputar o Torneio do Povo e o misto disputou a Taça Minas Gerais com os juvenis e reservas. Em 28 de Janeiro de 1973, aos 16 anos, estreou pelo time profissional do Atlético, em partida contra o Valério. A partir daí, Reinado nunca mais voltou aos juvenis. Paulo Benigno incorporou-o ao elenco profissional, embora ainda estivesse com o contrato de amador. Mas mesmo atuando no segundo quadro, Reinaldo Ganhou fama e admiradores. Torcida, imprensa apontavam como o craque do futuro. Em Belo Horizonte, o jornalista e escritor Roberto Drummond o apelidou de "Baby Craque" em um artigo que escrevera para o jornal O Estado de Minas.

Foi então, que a turma da toca da Raposa ficou sabendo da situação contratual de Reinaldo. Felício Brandi via em Reinaldo um novo Tostão. O Atlético tratou de se garantir, registrou imediatamente o contrato de gaveta que mantinha. Segundo o próprio Reinaldo na época disse: “Não teve grilo, eu já ganhava 500 cruzeiros e na hora do registro fui aumentado para 2000 cruzeiros”.

No final de 1973, Reinaldo teve uma operação no pé direito. No ano seguinte, em partida contra o Ceará, ao pisar em um buraco, torceu o joelho. A partir daí, as lesões no joelho acompanharam-no por toda a carreira. Jogou por um bom tempo à base de infiltrações no joelho. Ainda nessa época, depois de uma entrada de um desleal zagueiro teve extraído ambos os meniscos interno do joelho direito pelo Dr. Abdo Argges. Entretanto, essa retirada dos meniscos foi considerada desnecessária com a evolução da medicina esportiva. Em 1975, ficou mais dois meses afastado do futebol quando sofreu estiramento muscular nas duas coxas. Nessa época chegou a ganhar a alcunha de canela-de-vidro.

Mesmo em meio a contusões, Reinaldo vestiu a camisa da Seleção Brasileira pela primeira vez em 30 de julho de 1975 em um jogo contra a Venezuela, em Caracas. O mesmo aconteceu em jogos contra Argentina e Peru ainda em 75. Reinaldo certamente não foi o maior jogador de sua época porque as contusões não deixaram. Foram 4 no joelho(quatro cirurgias) e uma no tornozelo(uma cirurgia). Tudo isso pelas agressões que Reinaldo sofrera nos campos, agravadas por serem sobre um garoto que aos 14 anos começou sua vida profissional. Para jogar os jogos mais importantes não podia treinar, porque se treinasse não reuniria condições para o jogo. Levou várias infiltrações, um artifício médico que é hoje totalmente condenado pela medicina esportiva. E uma vez relatou:

"Eu tomava infiltrações no joelho com agulhas que mediam 20 cm. Depois que o Doutor retirava a agulha do meu joelho eu podia ver pedaços de cartilagem junto a ela."

Em 1976, o Dr. Neylor Lasmar passou a responder pelo departamento médico do Clube. Lasmar mandou interromper as infiltrações e submeteu Reinaldo a um tratamento à base de cortisona e radioterapia. Aos vinte anos em 1977, já havia operado o joelho 3 vezes e uma vez o tornozelo. Em 1978, após a Copa do Mundo da Argentina, Reinaldo foi acompanhado do Dr. Neylon Lasmar aos EUA para operar pela quarta vez o joelho esquerdo. A cirurgia foi comandada pela maior autoridade mundial em ortopedia esportiva, o Dr James Nicholas no Hospital Lennox Hill
O Dr. Nicolas explicou o que estava acontecendo com o joelho de Reinaldo:
“Debaixo da rótula havia muita cartilagem, mais restos de menisco, que estavam entre a rótula e o osso. Assim, cada vez que ele mexia a perna, sentia uma sensação terrível de dor, mais ou menos como se estivesse espremendo um dedo contra uma porta.”
A recuperação da cirurgia durou vários meses. A volta de Reinaldo aos gramados aconteceu após um ano.

Reinaldo Posições Políticas, Amizades e Nível cultural:

Reinaldo era considerado um jogador com um nível cultural e de informação muito superior ao que encontrávamos no futebol brasileiro nas décadas de 60’s e 70’s. Reinaldo angariou amizades muito além do futebol. Tinha transito praticamente livre entre os artistas da MPB. Era amigo de João Bosco, Chico Buarque, Fernando Brant, Fagner entre outros.
Com respeito à política, uma vez Reinaldo declarou

"Nos somos ídolos, e existem dois tipos de ídolos, os primeiros são usados para trazer alegria e esquecer os problemas. O segundo tipo de ídolo são usados para alertar o povo e conduzi-lo (o povo) a uma sociedade melhor. Nós jogadores de futebol infelizmente estamos no primeiro tipo de ídolos. Eu particularmente, gostaria de estar no segundo tipo de ídolo."
Outras frases de Reinaldo:


"Voto é secreto. Nem a minha mulher sabe que vou votar no Tancredo Neves."  
    
       
"Passei dez anos jogando com o joelho inchado e sendo artilheiro. Só tirava o gelo
para entrar em campo. (2001)
"


"Telê deveria ter me levado à Copa de 1982. Mas eu tinha posições políticas e ele era reacionário. (2001)"

"Eu comemorava os gols com o punho cerrado porque era um gesto socialista, revolucionário . (2001)"


Marca registrada de suas comemorações: Punho cerrado e erguido. Era um protesto contra a ditadura militar.

Reinaldo tinha uma maneira muito particular de comemorar seus gols, com o punho esquerdo erguido, em um gesto que lembrava o dos militantes negros do movimento dos Panteras Negras dos EUA. Além disso, tinha amizade com vários artistas considerados subversivos pela Ditadura Militar Brasileira. Por este gesto e por suas posições políticas independentes, Reinaldo era visto com desconfiança pelos representantes da ditadura militar, o que dificultou sua trajetória na Seleção e também o clube que defendia.

Conquistas, artilharias e títulos:

No time profissional do Atlético, conquistou seu primeiro título em 1976, ano que ganhou a Taça Minas Gerais e foi campeão Mineiro invicto. Este foi, aliás, o primeiro título de uma série de sete. Entre 1978 e 1983 foi Hexacampeão Mineiro e participou das campanhas do Atlético nos vice-campeonato Brasileiro de 1977 e 1980. É o artilheiro com maior média de gols em um único Campeonato Brasileiro (28 gols em 18 partidas, ou 1,55 por jogo, em 1977). Nesse mesmo ano, seu time terminou o campeonato sem perder um jogo, mas apenas com o vice-campeonato, perdendo a final nos pênaltis para o São Paulo, que terminou a competição com 12 pontos a menos em um tempo que as vitórias valiam apenas 2 pontos. Na Seleção Brasileira jogou 37 jogos marcando 14 gols, participou da Copa do Mundo de 1978, ao lado de outro atleta atleticano; Toninho Cerezo.
Em 1985, deixou o Galo e foi jogar no Palmeiras, vestiu a camisa do rival por um jogo e encerrou a sua carreira na Holanda.

Carreira Política e o jornalismo:

Reinaldo foi eleito Deputado Estadual em 1990 pelo PT. Reclamou muito sobre o desconto que o partido fazia(e ainda faz) nos salários de seus afiliados e foi desligado do partido. Tentou se reeleger pelo PDT em 94 e não obteve sucesso.
Em 2004, o ex-deputado Reinaldo foi eleito vereador em Belo Horizonte. Tentou a reeleição em 2008 e não conseguiu. Iniciou no Jornal “O Tempo” a carreira de cronistas esportivo onde tomou gosto pela profissão. Formou-se em jornalismo em 2008, pela UNI-BH e hoje é comentarista de esportes das Empresas Associados de BH (Jornal Estado de Minas.e TV Alterosa)
.

Album de Fotografias


Em pose com a faixa de campeão Mineiro de 1976. Era o primeiro título como profissional.


Comemorando gol contra o Cruzeiro Galo 2 x 1


"Gol de placa" contra o América RN em  1978


Está aí a placa do gol acima.


Com Toninho Cerezo, naquela época o Galo era uma máquina.

Para encerrar o post, a frase que foi cantada nas arquibancadas do Mineirão e do Brasil nas décadas de 70 e 80: REI, REI, REI, REINALDO É NOSSO REI....ETERNO REI!!!

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